Deputados mineiros estão citados no rolo do caso JBS. Gabriel Guimarães é um deles

23.05.2017
REDAÇÃO - Pelo menos sete deputados mineiros que exercem mandato atualmente aparecem no acordo de colaboração premiada dos executivos da J&F, holding que controla a JBS, dos irmãos Joesley e Wesley Batista.
No documento da Procuradoria Geral da República (PGR), obtido pelo Hoje em Dia, o diretor de Relações Institucionais e Governo do grupo J&F, Ricardo Saud, relata aos procuradores repasses a cinco deputados federais e dois estaduais, num total de R$ 2,3 milhões.
Conforme o termo de colaboração assinado por Saud, os pedidos de dinheiro dos políticos eram apresentados, em regra, a ele, que então os levava a Joesley. Ainda segundo o delator, o método de pagamento era sempre determinado pelo político, podendo consistir em “doação oficial, pagamento de notas fiscais avulsas ou entrega em dinheiro em espécie”.
Cash
E foi justamente a modalidade dinheiro em espécie apontada como a escolhida pelos deputados federais Zé Silva (SD), Aelton Freitas (PR) e Marcos Montes (PSD), esses dois últimos conterrâneos de Saud, que nasceu em Uberaba, no Triângulo, cidade onde também já exerceu o cargo de secretário de Desenvolvimento Econômico.
Segundo a delação, Aelton Freitas recebeu “R$ 200 mil em espécie em 22/9/2014, entregues por Ricardo Saud a Pio, sócio e amigo do deputado na antiga sede da J&F, em São Paulo”.
Um dia depois teria sido a vez de Marcos Montes. De acordo com o documento, o político recebeu “R$ 200 mil em espécie em 23/9/2014, entregues por Ricardo Saud à secretária parlamentar Mara na antiga sede da J&F, em São Paulo”.
Já Zé Silva, ainda segundo o delator, pegou “R$ 200 mil em espécie em R$ 19/9/2014, entregues por Ricardo Saud” no mesmo endereço na capital paulista.
No caso do deputado federal Gabriel Guimarães, a delação aponta o recebimento de “R$ 200 mil em 3/9/2014, por meio de pagamento de nota fiscal avulsa emitida por Andrade Antunes e Henriques Advogados”. Localizado na praça Carlos Chagas, no Santo Agostinho, o escritório tem Gabriel Guimarães de Andrade no quadro societário.
No anexo da colaboração premiada dedicado ao governador Fernando Pimentel (PT), ele é apontado como destinatário de um “repasse mensal de R$ 300 mil, enquanto era ministro do Desenvolvimento e Comércio de 6/8/2013 a 29/10/2014, feito por meio do escritório Andrade, Antunes e Henrique Advogados”. É o mesmo escritório que aparece na delação sobre Gabriel Guimarães.
Segundo o delator, “o pagamento era feito mensalmente pela empresa (J&F) com nota fiscal emitida pelo referido escritório, no valor de R$ 300 mil, sem que o escritório prestasse qualquer serviço à empresa”.
 Sete deputados mineiros no caixa da JBS

Campanha
O senador afastado Aécio Neves (PSDB) também ganhou um capítulo à parte. O delator afirma que o então candidato à Presidência da República “orientou que a propina fosse distribuída para a compra de partidos políticos para que integrassem a coligação da candidatura de Aécio”.
Como presidente nacional do PTdoB, o deputado federal Luis Tibé teria sido o destinatário de R$ 1 milhão. Segundo o delator, o dinheiro foi repassado via doação oficial ao diretório nacional em 15/9/2014. “Funcionou como intermediário das tratativas para
o pagamento junto a Ricardo Saud, o deputado federal Luis Tibé”, diz o documento. O PTdoB oficializou a mudança do nome da legenda, rebatizada como Avante neste ano.

Também em 15/09/2014, R$ 250 mil foram para o comitê financeiro regional do PTC, em Minas. “Funcionou como intermediário das tratativas para pagamento junto a Ricardo Saud, o sr. Anselmo Domingos”. Anselmo é deputado estadual e, desde 2002, é presidente estadual do Partido Trabalhista Cristão (PTC).
Na mesma data das doações ao PTC e PTdoB, o PTN, cujo diretório estadual é presidido pela deputada estadual Arlete Gonçalves Magalhães, irmã do vereador Wellington Magalhães, recebeu, em doação oficial, R$ 250 mil, de acordo com o delator.
Políticos que aparecem na colaboração premiada negam denúncias
Políticos mineiros citados na delação de Ricardo Saud, da J&F, negaram as acusações. A deputada estadual Arlete Magalhães (PTN) e o deputado federal Aelton Freitas (PR)disseram que as doações recebidas da JBS foram declaradas na prestação de contas e entregues ao TSE.
Mesma justificativa foi dada por Luis Tibé, que afirmou que os valores foram destinados “à campanha presidencial do partido do qual o PTdoB fazia parte da coligação”.
O deputado federal Marcos Montes (PSD) afirmou que nunca escondeu ter recebido doações de empresas ligadas ao setor agropecuário e disse que os valores estão registrados na prestação de contas ao TSE. “Mas jamais fiz promessas ou acordos em troca de apoios, mesmo porque pertenço ao setor e sempre o defendi”, afirmou.
Caluniosa
Já o deputado federal Zé Silva (SD) disse que a citação de seu nome foi “caluniosa”. “Em sua fala, o diretor da empresa afirma ter doado, em meu nome, R$ 200 mil, em espécie, a alguém que não sabe dizer quem. Nunca autorizei quem quer que seja a pedir ou receber doação em meu nome de forma não oficial. Declarei, oficialmente, a doação feita pela empresa JBS, por meio do Solidariedade, no valor de R$ 100 mil, que é possível confirmar no TSE”, disse. O deputado Anselmo Domingos não se pronunciou.
A defesa do governador Fernando Pimentel (PT) informou que o delator, no caso Saud, disse que os pagamentos foram feitos a um escritório de advocacia e não a Pimentel, “que não tem conhecimento sobre essa história estapafúrdia e mentirosa”. Nas redes sociais, Pimentel declarou que está “sendo acusado de forma leviana e mentirosa”. “O acusador não apresenta provas. Não tenho e nunca tive ligação com esse escritório de advocacia”, disse.
O escritório em questão é o Andrade, Antunes e Henriques, que tem o deputado Gabriel Guimarães entre os sócios. Questionado sobre a citação, o escritório não quis se pronunciar. Já a assessoria de Gabriel disse que o parlamentar irá falar hoje sobre as citações.
A assessoria de imprensa de Aécio Neves (PSDB) disse, em nota, que o próprio delator Ricardo Saud afirmou à PF que: “Ele (Aécio) nunca fez nada por nós”, o que torna infundada qualquer acusação de pagamento de propina. Segundo a nota, os recursos recebidos pela empresa em 2014 estão declarados e não envolveram contrapartida ou dinheiro público.
Fonte: HOJEEMDIA
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