O estado brasileiro viu se confirmar que está nas mãos de uma organização criminosa
NÃO “TEM QUE MANTER ISSO, VIU!”.
Margarida
Drumond de Assis
21.05.2017
A perplexidade que tomou conta do país
na noite da última quinta-feira (18) é impressionante. O estado brasileiro viu se
confirmar que está nas mãos de uma organização criminosa; pelo menos é o que
parece. Em meio a tantas delações que já assolavam o país, mostrando corruptos
por todo lado no poder, agora o próprio presidente Michel Temer foi delatado,
por empresários da JBS, e, conforme vídeo, o chefe da nação mostrou pertencer a
esse meio ao manter propina a envolvidos da organização: “Tem que manter isso,
viu!”, disse.
Atenho-me para esta reflexão, mas bem
pode acontecer que, de súbito, outro escândalo - ou um forte desdobramento
deste - venha a público tomando o cenário nacional; parece rotina vermos
revelações bombásticas quando menos se espera.
Com isso, um fato tão forte quanto a revelação do vídeo gravado no dia 7
de março último, apresentado pelo empresário Joesley Batista, pode se tornar
ultrapassado no noticiário, ficando os esclarecimento aquém de uma análise mais
apurada. Fato, porém, é que as revelações publicadas pelo jornal O Globo, às 19h30 do dia 17, mostraram
provas de obstrução de Justiça, por parte do Presidente Temer. O vídeo com a
gravação que Joesley fez, sem que o presidente disso desconfiasse, mostrou um
diálogo embaraçoso, e Temer indicou o
deputado afastado, Rodrigo Rocha Loures, homem de sua total confiança, para
resolver um assunto da J&F (empresa que controla a JBS), e, pior, Rocha Loures
foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil, enviados pelo presidente do
Conselho de Administração da JBS, Joesley Batista. No prosseguir da gravação, quando Michel
Temer ouviu do empresário que estava passando ao ex-deputado Eduardo Cunha e ao
operador financeiro Lúcio Funaro uma mesada na prisão para se manterem em
silêncio, proferiu: “Tem que manter isso, viu!”
Bastou a audição do importante arquivo e
a notícia se espalhar, para, logo,
vários deputados, juristas e outros do poder se manifestarem incrédulos,
ao passo mesmo em que outros, nem tanto. Alguns declararam que “se ficar
comprovado que o presidente Temer incentivou um dos donos da JBS, Joesley
Batista, na compra de silêncio, cabe Impeachment” - ora, o vídeo já não é uma comprovação?
; “a delação vem num momento terrível
para o país”; “o presidente perde as
condições de permanecer no cargo”; “isso é um crime de responsabilidade”, “é
inaceitável que um presidente receba alguém que está ‘segurando’ juízes, e tudo fique por isso mesmo” - no vídeo, Temer
pergunta: “Está segurando os dois?” De outro lado, há representantes nossos na cúpula do poder a
defenderem Temer; um chegou a dizer: “Temer trata bem as pessoas, não vejo nada
contra o presidente da República”. E, por sua vez, o presidente se julga
ofendido por ter sido gravado, como se tal fato atenuasse sua culpa. Fato é que o “alpiste”, conforme a linguagem
deles nas artimanhas, vinha sendo dado aos envolvidos com dinheiro do povo, à
revelia de tantas mazelas que grassam no Brasil nos campos da saúde, da educação,
segurança e tanto mais.
Mediante tudo isso, a constatação óbvia:
seja quem for o interlocutor, o que é dito e mostrado só confirma quanto é
gigantesco o esquema dessa corrupção que se desenrola. Estão saqueando o país e verdadeiramente
abusando de seu povo. São necessárias
providências cabíveis e urgentes, pois, com tantos vídeos, tantas delações,
não há mais o que questionar. Além do vídeo com Joesley, há também o outro com o
diretor de relações institucionais da JBS, Ricardo Saud, sob a mesma questão e
novas delações. Vimos que estão envolvidos
muitos nomes, como o de Guido Mantega, Aécio Neves e pessoas de sua família; os
ex-presidentes Lula e Dilma; o ex-ministro Antônio Palocci, dos governos dos
ex-presidentes citados, dentre outros.
Assim, foi muito bom saber que o relator
da Lava-Jato no STF, o jurista Ministro Luiz Edson Fachin, possibilitou a
abertura de Inquérito para apurar os fatos. Afinal, sabe-se que o Presidente
Michel Temer está sob acusação de três crimes, que, somados, podem chegar a 23 anos de prisão: corrupção passiva,
organização criminosa e obstrução da Justiça.
No final das contas, pensamos que o
desfalque que a JBS sofreu há menos de dois meses a partir da Operação “carne
fraca”, com frigoríficos da empresa sendo investigados pela adulteração de
carnes comercializadas no Brasil, foi fundamental para esse escândalo vir à
tona: a JBS, segundo se noticiou, chegou a perder R$ 3,4 bilhões de valor de
mercado em apenas um dia. Obviamente
quereriam garantir a sobrevivência das empresas do grupo; elas se constituem na
maior processadora de proteína animal do mundo. Então, que sejam agora levados
em conta mais esse fato mostrado abertamente e que se recordem as assinaturas
coletadas, há cerca de três anos, em torno de 1,6 milhões para chegarmos à “Ficha
limpa”. O momento por que passamos é revolucionário, com perda de confiança do
povo nas instituições, e cabe a quem de direito nas decisões entender que não
se pode “manter isso”. Todo esse quadro é degradante, um avilte à nação
brasileira, e menospreza a inteligência de todos, com inolvidável desrespeito a
todos.
Margarida
Drumond de Assis é professora, jornalista e autora de dezesseis livros editados
em vários gêneros literários. Destacam-se, Tempo
de saudade, com a história de Timóteo;
Dom Lara: vida de amor, testemunho de caridade, biografia ; e Não dá pra esquecer – crônicas. É membro da Academia Taguatinguense de
Letras – ATL e da Academia de Letras e Artes do Brasil – ALMUB www.margaridadrumond.vai.la
Contato: margaridadrumond@gmail.com Tel. (61) 9252-5916
O estado brasileiro viu se confirmar que está nas mãos de uma organização criminosa
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